China “a posteriori” IV

© Luís Filipe Catarino – Jiuzhaigou, Sichuan, China – 20 & 21 /8/2010

O Vale encantado
Escrever sobre Jiuzhaigou é a tarefa mais difícil que a China me reservou. À primeira vista, tal qual as paixões assolapadas que nos acarinham os sentidos, parece muito fácil. O elogio está sempre pronto na ponta dos dedos e a beleza óbvia deste parque natural enche-nos a alma e o corpo com aquela alegria infantil que só os inocentes conseguem ter. Mas a verdade é que em Jiuzhaigou os adjectivos envergonham-se, tal a falta de vocabulário para descrever este Património da Humanidade. E aqui nem as imagens que o Catarino insistentemente fotografa, apesar da sua qualidade indiscutível, substituem o prazer de presenciar, ao vivo e a cores, tanta harmonia junta.
Jiuzhaigou fica no Norte da província chinesa de Sichuan, a uma hora de avião da capital Chengdu. Diariamente há cerca de 15 voos entre as duas regiões, o que atesta bem a capacidade turística deste parque. Mas como todos os guias nos avisam, aqui não nos podemos intimidar com os excitados e barulhentos turistas chineses. Jiuzhaigou é exclusivo, mesmo que lotado com os seus milhares de visitantes.
Cenicamente marcado pela sucessão interminável de majestosas montanhas, lagos cristalinos e cascatas onde a água corre apressada em espiral, este parque natural guarda tesouros únicos que só a exuberância da natureza pura pode oferecer. Aliás, essa sensação de estarmos num dos locais mais perfeitos da terra, mesmo que povoado pela construção humana aqui e ali, sente-se mal saímos do avião. Além do frio de rachar, com os ossos a acusar a ausência de agasalho, a falta de oxigénio mal apoiamos os pés no chão acusa logo tonturas e mau estar. O aeroporto fica a mais de três mil metros de altitude e só à medida que vamos descendo para Jiuzhaigou é que essa sensação de estarmos a ser consumidos pela terra acaba.
Mais confortáveis fisicamente, a visita a Jiuzhaigou requer tempo e disponibilidade. Dividido em três vales, o parque está organizado para facilitar a vida dos visitantes, mas é impossível conhecer Jiuzhaigou em apenas um dia. Por isso, a maior parte dos turistas prefere andar nos autocarros que circulam constantemente pelo Parque e que deixam os passageiros nos pontos de maior interesse. Mas os passeios mais atraentes, mesmo que mais demorados, fazem-se a pé, nos passadiços de madeira a rasgar a floresta e que nos proporcionam momentos únicos de comunhão com a natureza.

@ Alexandra Ho

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