DIAMANTE DE SANGUE



XL Semanal, Edição de 4 de Fevereiro de 2007 de ABC e
Refugiado Liberiano, Brava, Cabo Verde, 25 de Fevereiro de 2006 / Foto: Luís Filipe Catarino

Na terça-feira fui ver “Diamante de Sangue”, o novo filme onde Leonardo di Caprio interpreta o papel de um traficante de diamantes em plena guerra civil na Serra Leoa. Sabe-se que esta guerra foi das mais selváticas e brutais que o continente africano viveu. Todas são brutais e selvagens, mas as imagens que correram mundo de homens, mulheres e crianças mutilados à catanada perdurarão nas nossas memórias como algo que só o pior no ser humano consegue.
O filme pretende fazer com que quem compra diamantes pense no que pode estar por detrás da pedra mais dura à face da Terra: actualmente cerca de 20% dos diamantes no mercado provêm de zonas de conflito, onde a venda dos diamantes serve para financiar armas e sujeitar muita gente à escravidão nas minas ou à morte arbitrária. O filme é uma produção de Hollywood, com muita acção e algum suspense mas que consegue fugir várias vezes ao óbvios clichés para nos centrar naquilo que realmente interessa e que é o sofrimento humano.
Na edição do último sábado da revista XLSemanal incluída no jornal espanhol ABC, a reportagem de capa é exactamente sobre este tema e, partindo do filme como pretexto, mostra-se como o contrabando destas pedras preciosas tem servido ao longo dos anos para financiar guerras como as de Angola, Rep.Dem. Congo, Libéria e, mais recentemente, na Costa do Marfim. Também menciona o facto de a indústria dos diamantes ter ficado um bocado abalada com a “má publicidade” que o filme lhes está a causar. Como manobra de marketing ofereceram 10.000 dólares às estrelas de Hollywood que usem diamantes (e os mostrem claro) na cerimónia dos Óscares (que lata!). As fotos do artigo são quase todas do Kadir van Lohuizen
O ano passado na travessia de barco da Ilha Brava para a Ilha do Fogo em Cabo Verde conheci um refugiado liberiano de nome John. Há quinze anos que tinha fugido do seu país e da guerra civil e não via a família desde aí. Fugiu primeiro para a Guiné-Conakri e depois para a Gâmbia onde era mal tratado mas conseguiu um cartão da ONU de refugiado. Finalmente chegou a Cabo Verde e tem sido o futebol a dar-lhe a sobrevivência nestes anos jogando em vários clubes do arquipélago. Ainda lhe falta conseguir arranjar o dinheiro para voltar para a Libéria à procura dos pais e dos irmãos.